terça-feira, 29 de maio de 2012

impossível interromper






Indo para o dentista, por volta das 16:30h, vi um casal se beijando na calçada da movimentada av. Rio Branco, em meio ao caos do centro da cidade naquele horário. Se beijavam tão bonito que desconfiei que pudesse ser uma pegadinha.

Cena digna de novela ou final de filme romântico: casal abraçado, num beijo longo e apaixonado, com os carros passando desfocados no fundo e as pessoas lançando olhares meio indiscretos sobre eles.

Enquanto me distanciava, fiquei pensando que um beijo daquele, com tamanha determinação, não era um cumprimento entre casais, mas dado apenas em momentos especialíssimos, casos de vida ou morte.

Se não fosse pegadinha, talvez seria uma reconciliação de alguma merda que ela fez, e ele passando por cima do seu machismo e orgulho, resolveu perdoá-la naquela hora. Não acho que pudesse ser o contrário, ele ter feito uma merda e ela perdoado, porque elas nunca perdoam completamente, e em vez de beijo apaixonado, eu veria no centro da cidade uma cara fechada, braços cruzados e um severo "que isso não se repita de novo".

Poderia ser também, um pedido de casamento em que ela ficou feliz por ter recebido e ele porque ela aceitou - mas as 16:30h na Rio Branco?? Não que seja impossível, mas muito improvável.

Mais provável que fossem amantes e estavam terminando o relacionamento porque já estavam colocando sentimento demais numa relação que não teria muito futuro. Ou porque estavam dando futuro para a relação que foi promovida a "casamento", num ato corajoso de largarem seus respectivos cônjuges.

Quem sabe ainda, reviviam a paixão inesquecível de outros tempos que, não sei por que cargas dágua, o mesmo destino que os afastou por anos, naquele momento os aproximava mais uma vez.

Pensando nessas possibilidades, cheguei no prédio do meu dentista. Antes de entrar, porém, dei um última olhada para trás e eles ainda se beijavam, num grude que faria muita gente chamar de "pouca vergonha".

Talvez eu tenha acertado o motivo do beijão com uma das minhas suposições, entretanto, certeza mesmo eu só teria se perguntasse direto pra eles.

Mas era impossível interromper aquela "pouca vergonha".




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