terça-feira, 6 de março de 2012

feitos pra andar


Sempre achei voar o máximo.

Tenho inveja dos urubus e gaivotas que voam imponentes lá no alto, vendo tudo a seus pés e o infinito acima deles, não se importando com altura, com distância, alheios ao caos do mundo dos que pisam nesse chão. Fico imaginando a delícia de sensação  de dar uns rasantes, ter o céu inteiro para explorar, voar rápido, devagar, planar, chegar em locais que ninguém jamais vai chegar de outra forma.

Mas não me agrada a idéia de ter asas que nem os anjos porque seria bem incômodo esbarrá-las em todo lugar, fazer um buraco para elas nas camisas, jaquetas e cia., soltar pena, tomar cuidado pra não quebrá-las, queimá-las, sujá-las, dormir com aquelas porras nas costas então...

As asas dos morcegos são menos incômodas, já que não ficam nas costas, porém perderíamos as mãos, pois, pra quem não sabe, a asa é um prolongamento dos braços e dedos do animal.

Já asas de insetos que se recolhem, como os besouros, são mais úteis, entretanto voar com 4 asas batendo milhares de vezes por minuto me passa um desgaste, um cansaço só de pensar, seria mais um vôo apressado, nervoso, tenso, sem prazer, sem poesia... uma merda, melhor rastejar.

Voar sem asas pode ser a solução, mas que nem o super-homem com os braços estendidos pra frente e uma perna ligeiramente flexionada, nunca me encantou, aliás qual a razão dessa pose? Muito artificial.

Tem também o voo dos fantasmas, que, diferente do super-homem, é mais natural, com mais leveza, porém sem controle, limitado e fantasmagórico (obviamente), lembrando mais um saco plástico impulsionado pela brisa.

Peter Pan estaria mais próximo do que imagino, se não fosse a indiferença dele quando voa, como se fosse fácil e sem importância. Banal como piscar os olhos.

O ideal, pra mim, é que seja um vôo parecido com o nadar das arraias e das tartarugas,  com menos resistência, menos atrito, deslizando mais, para se ter toda liberdade no ar para mergulhar, girar, dar cambalhotas, subir, descer, ficar de costas, de cabeça para baixo... teria que ser antes de tudo, um lazer.

Pra isso, a gravidade não poderia ser tão severa, aliás, que exagero esse rigor  pra manter as coisas no chão, como se tudo quisesse fugir do planeta na primeira oportunidade. A gravidade poderia ser mais light deixando as coisas como que em slow motion, sem pressa, possibilitando admirar a beleza de qualquer coisa que caia, quebre e exploda.

Complicados que somos, trocaríamos os nossos vôos pessoais por uma carona em algum avião, usando como desculpa o cabelo que ficaria desarrumado com a velocidade, ou o frio que faz em algumas altitudes, ou os insetos que se esborracham na nossa cara, ou a mesma preguiça que nos impede de caminhar hoje em dia.

Aí voar já não seria liberdade, mas retrocesso, algo primitivo e antiestético, e voltaríamos a andar, pois pra isso que fomos feitos.

Nos restando apenas admirar os urubus e gaivotas, que despretensiosamente, dão um show.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vc torrou um mato quando escreveu isso? kkkkkk
Alves.